A Casa de Angola tem hoje um alargado conjunto de sócios com grande qualidade técnica, profissional e humana. É com esta força que sentimos que é chegado o momento da Casa de Angola desenvolver uma estratégia global, capaz de apontar e alicerçar respostas alternativas integrantes e integradas, com propósitos muito claros: criar uma percepção da Casa de Angola positiva, a execução de uma política de proximidade com a diáspora, com fortes preocupações sociais, apoio jurídico, saúde, divulgação da cultura angolana.

Poetas e Escritores



AGOSTINHO NETO
Adeus à hora da largada
Minha Mãe
(todas as mães negras
cujos filhos partiram)
tu me ensinaste a esperar
como esperaste nas horas difíceis

Mas a vida
matou em mim essa mística esperança

Eu já não espero
sou aquele por quem se espera

Sou eu minha Mãe
a esperança somos nós
os teus filhos
partidos para uma fé que alimenta a vida

Hoje
somos as crianças nuas das sanzalas do mato
os garotos sem escola a jogar a bola de trapos
nos areais ao meio-dia
somos nós mesmos
os contratados a queimar vidas nos cafezais
os homens negros ignorantes
que devem respeitar o homem branco
e temer o rico
somos os teus filhos
dos bairros de pretos
além aonde não chega a luz eléctrica
os homens bêbedos a cair
abandonados ao ritmo dum batuque de morte
teus filhos
com fome
com sede
com vergonha de te chamarmos Mãe
com medo de atravessar as ruas
com medo dos homens
nós mesmos

Amanhã
entoaremos hinos à liberdade
quando comemorarmos
a data da abolição desta escravatura

Nós vamos em busca de luz
os teus filhos Mãe
(todas as mães negras
cujos filhos partiram)
Vão em busca de vida.

(Sagrada esperança)








ANTÓNIO JACINTO
Bailarina negra

A noite
(Uma trompete, uma trompete)
fica no jazz
A noite
Sempre a noite
Sempre a indissolúvel noite
Sempre a trompete
Sempre a trépida trompete
Sempre o jazz
Sempre o xinguilante jazz

Um perfume de vida
esvoaça
adjaz
Serpente cabriolante
na ave-gesto da tua negra mão

Amor,
Vênus de quantas áfricas há,
vibrante e tonto, o ritmo no longe
preênsil endoudece

Amor
ritmo negro
no teu corpo negro
e os teus olhos
negros também
nos meus
são tantãs de fogo
amor.





DAVID MESTRE
ESPERA

Existo acento de palavra, carapinha
recordação áspera de monandengue,
mapa de conversas na visitação da lua,
grávida luena sentada no verso da fome.

aqui esqueço África, permaneço
rente ao tiroteio dialecto das mulheres
negras, pasmadas na superfície do medo
que bate oblíquo no quimbo quebrado.

num gabinete da Europa, dois geógrafos
vão assinalar a estranha posição
dum poeta cruzado na esperança morosa
das palavras africanas aguardarem acento.
  
                   De  Crónica do ghetto, 1973
Deolinda Rodrigues
“África
Mamã África
geraste-me no teu ventre
nasci sob o tufão colonial
chuchei teu leite de cor
cresci
atrofiada mas cresci
juventude rápida
como a estrela que corre
quando morre o nganga
hoje sou mulher
não sei já se mulher se velhinha
mas é a ti que venho
África
Mamã África
Tu que me geraste
não me mates
não praguejes um rebento teu
senão, não tens futuro,
não sejas matricida.
sou Angola, a tua Angola
não te juntes ao opressor
ao amigo do opressor
nem a teu filho bastardo
eles caçoam de ti
caíste na ratoeira
enganada
não distingues o verdadeiro do falso
no teu cândido e secular vigor
cegaste
agora és tu
África,
Mamã áfrica
que dás força ao irmão bastardo
para asfixiar-me
azagaiar-me pelas costas
o opressor, o amigo do opressor
o teu filho bastardo
(também tu, mamã áfrica?)
Divertir-se-ão
Ao ouvir-me expirar
Mas África,
mamã África
pelo amor da coerência
ainda quero crer em ti.”










           
CLUBE ATLÉTICO DE LUANDA 
      – ESCOLA DO POVO -
                                                             
                 "O ESCOLA"
GLÓRIA  AO “ESCOLA” DO POVO
QUE CRIOU O HOMEM NOVO
E FOI UNIVERSIDADE
ONDE GERMINOU A SEMENTE 
NUMA LUTA PERMANENTE
EM BUSCA DA LIBERDADE

FOSTE FONTE DE VIRTUDES
SOFRESTE VICISSITUDES
COM DIGNIDADE ASSUMIDA
APRENDESTE A DIZER NÃO!
AO CARRASCO E AO PATRÃO
SEMPRE DE CABEÇA ERGUIDA

BANDEIRA SOLTA AO VENTO
COM VIGOR E SENTIMENTO
PLENO D’ANGOLANIDADE
GALVANIZASTE GERAÇÕES
DE HERÓICOS CAMPEÕES
EM DEFESA DA VERDADE

E NA LONGA CAMINHADA
SOFRIDA E SEMPRE AGITADA
FIZESTE A REVOLUÇÃO
ÉS PARTE DA NOSSA HISTÓRIA
PILAR FIRME DA VITÓRIA
ALICERCE DA NAÇÃO


                                 HENRIQUE MOTA  - 1975